segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS

A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS 


Com a evolução da lingüística gerativa, no início dos anos 80 a idéia da 
competência lingüística como um sistema de regras específicas cedeu lugar à hipótese 
da Gramática Universal (GU). Deve-se entender por GU o conjunto das propriedades 
gramaticais comuns compartilhadas por todas as línguas naturais, bem como as 
diferenças entre elas que são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis na 
própria GU. A hipótese da GU representa um refinamento da noção de Faculdade da 
Linguagem, sustentada pelo gerativismo desde o seu início: a Faculdade da Linguagem 
é o dispositivo inato presente em todos os seres humanos, como herança biológica, que 
nos fornece um algoritmo, isto é, um sistema gerativo, um conjunto de instruções passo-a-passo,
 como as inscritas num programa de computador, o qual nos torna aptos para desenvolver (ou adquirir) a gramática de uma língua. Esse algoritmo é a GU.
Para procurar descrever a natureza e o funcionamento da GU, os gerativistas 
formularam uma teoria chamada de Princípios e Parâmetros. Essa teoria possui pelo 
menos duas fases: a fase da Teoria da Regência e da Ligação (TRL), que perdurou por 
toda a década de 80, e o Programa Minimalista (PM), em desenvolvimento desde o 
início da década de 90 até o presente.
As pesquisas da teoria de Princípios e Parâmetros foram e são desenvolvidas 
principalmente na área da sintaxe, pois é exatamente nas estruturas sintáticas que mais 
evidentemente se percebem as grandes semelhanças entre todas as línguas do mundo, 
mesmo entre aquelas que não possuem nenhum parentesco, o que facilita o estudo da GU. Por exemplo, todas as línguas do mundo possuem estruturas como orações 
adjetivas, orações interrogativas, e funções sintáticas como sujeito, predicado, 
complementos.A possibilidade de estudar a sintaxe isolada dos demais componentes da 
gramática (léxico, fonologia, morfologia, semântica) é conseqüência de um conceito 
fundamental do gerativismo, o de gramática modular. Segundo ele, os componentes da 
gramática devem ser analisados como módulos autônomos, independentes entre si, no 
sentido de que são governados por suas próprias regras, que não sofrem influência direta 
dos outros módulos. Isto é, o funcionamento de um módulo como, digamos, a sintaxe, é 
cego em relação às operações da fonologia, por exemplo. Naturalmente, existem pontos 
de interseção entre os módulos da gramática, afinal a sintaxe cria sintagmas e sentenças 
a partir das palavras do léxico, e o produto final da sintaxe (a sentença) deve receber 
uma leitura fonológica e também uma interpretação semântica básica, que no 
gerativismo se chama Forma Lógica. Podemos visualizar essa interação entre os 
módulos da gramática no esquema a seguir:

Nessa ilustração, vemos que o elemento central da gramática é a sintaxe. Ela 
retira do léxico as palavras com as quais construirá, segundo suas próprias regras, 
estruturas como sintagmas e sentenças, que da sintaxe são encaminhadas para a 
preparação para a pronúncia, no módulo fonológico, e para a interpretação formal, no 
módulo semântico. Nessa maneira de compreender o funcionamento da gramática, a 
morfologia é interpretada como parte do léxico, já que dá conta da estrutura interna da
palavra, e também como parte da fonologia, uma vez que deve dar conta das alterações 
mórficas fonologicamente condicionadas. 
 No Programa Minimalista atual, entendemos por Princípio as propriedades 
gramaticais que são válidas para todas as línguas naturais, ao passo que Parâmetro deve 
ser compreendido como as possibilidades (limitadas sempre de maneira binária) de 
variação entre as línguas. Por exemplo, quando analisamos as sentenças (a) “João disse 
que ele vai se casar” e (b) “Ele disse que João vai se casar”, vimos que em (a) o 
pronome “ele” pode referir-se tanto a “João” quanto a qualquer outro homem 
anteriormente citado no discurso, enquanto na frase (b) “ele” não pode se referir a 
“João”, e necessariamente faz referência a um outro homem. 
Essa diferenciação entre a referencialidade do pronome “ele” nas duas frases 
pode ser explicada da seguinte maneira: nesse contexto, o pronome faz referência a 
algum elemento que precisa ter sido citado anteriormente no texto – trata-se de um 
pronome anafórico. É um Princípio da GU que uma anáfora necessariamente deve 
suceder o seu referente, e nunca o contrário. É por isso que na frase (a) “ele” pode ser 
tanto “João” quanto outro homem citado numa frase anterior, já que ambos os termos 
antecedem o pronome. Já no caso de (b) “João” não pode ser o referente de “ele”, pois o 
pronome antecede o nome. Se traduzíssemos (a) e (b) para qualquer língua do mundo, o 
resultado seria sempre o mesmo: em (b) seria impossível ligar o pronome ao nome 
citado, mas em (a) isso pode ocorrer. Trata-se, portanto, de um Princípio da GU, 
exatamente igual em todas as línguas naturais. 
Vejamos agora um exemplo de Parâmetro. Se considerarmos que o valor 
semântico básico da frase (a) seja, digamos, algo como “João disse que ele mesmo, o 
próprio João, vai se casar”, saberemos que “ele” se refere a “João”. “João” é o sujeito da 
oração principal, e “ele” é o sujeito da oração subordinada. Dizemos, então, que os 
sujeitos das duas orações são correferenciais. O que é interessante nesse exemplo é que 
o sujeito da segunda oração poderia não ser preenchido por um pronome anafórico, isto 
é, o sujeito da oração subordinada poderia ser oculto – que na lingüística gerativa 
chamamos tecnicamente de sujeito nulo (representado aqui informalmente por Ø) –, 
como ocorre na sentença (c) “João disse que Ø vai se casar”. 
 (i) João disse que ele vai se casar (“ele” sujeito preenchido) 
 (ii) João disse que Ø vai se casar (“Ø” sujeito nulo) 
A existência de sujeitos nas sentenças é um Princípio da GU, mas a 
possibilidade de deixá-los nulos nas frases é um Parâmetro da GU, pois línguas como o 
português se caracterizam como [+ sujeito nulo], enquanto línguas como o inglês são [– 
sujeito nulo]. É por essa razão que dissemos que os Parâmetros que diferenciam as 
línguas são previsíveis e distribuídos sempre de maneira binária (+ ou – o parâmetro 
X). O léxico, por exemplo, não é um fator de diferenciação entre as línguas que possa ser interpretado como opção Paramétrica, já que o léxico é sempre arbitrário, e, por isso 
mesmo, imprevisível. 
O projeto da lingüística gerativa é observar comparativamente as línguas 
humanas, com os seus milhares de fenômenos morfofonológicos, sintáticos, semânticos 
e sua suntuosa complexidade, com o objetivo de descrever os Princípios e os Parâmetros 
da GU que subjazem à competência lingüística dos falantes, para, assim, poder explicar 
como é a Faculdade da Linguagem, essa parte notável da capacidade mental humana.


O MODELO TEÓRICO GERATIVISTA

O MODELO TEÓRICO GERATIVISTA


Naturalmente, apenas postular a existência da Faculdade da Linguagem como 
um dispositivo inato que permite aos humanos desenvolver uma competência lingüística 
não resolvia todos os problemas da lingüística gerativa. Era (e ainda é) preciso 
descrever exatamente como é essa Faculdade, como ela funciona e como é possível que 
ela seja geneticamente determinada se as línguas do mundo parecem tão diferentes entre 
si. Para dar conta dessa aparente contradição entre a hipótese da Faculdade da 
Linguagem e os milhares de línguas existentes no planeta, os lingüistas da corrente 
gerativa vêm elaborando teorias que procuram explicar o funcionamento da linguagem 
na mente das pessoas. Ao observar os fatos das línguas naturais, um gerativista faz-se 
perguntas como: 
(i) o que há em comum entre todas as línguas humanas e de que maneira elas diferem 
entre si? 
(ii) em que consiste o conhecimento que um indivíduo possui quando é capaz de falar e 
compreender uma língua? 
(iii) como o indivíduo adquire esse conhecimento? 
(iv) de que maneira esse conhecimento é posto em uso pelo indivíduo? 
(v) quais são as sustentações físicas presentes no cérebro/mente que esse conhecimento 
recebe? 
 Para procurar responder perguntas como essas, a lingüística gerativa propõe-se a 
analisar a linguagem humana de uma forma matemática e abstrata (formal), que se 
afasta bastante do trabalho empírico da gramática tradicional, da lingüística estrutural e 
da sociolingüística, e se aproxima da linha interdisciplinar de estudos da mente humana 
conhecida como Ciências Cognitivas. A maneira pela qual tais perguntas vêm sendo 
respondidas constitui o modelo teórico do gerativismo. 
 Ao longo dos anos, lingüistas de todas as partes do mundo (inclusive do Brasil, 
desde a década de 70) têm trabalhado na formulação e no refinamento do modelo 
teórico gerativista. O mais importante deles é o próprio Chomsky, mas existem muitos 
estudiosos que dele discordam e acabam formalizando modelos alternativos, que às 
vezes divergem crucialmente do modelo chomskyano. Não há qualquer dúvida de que 
Chomsky seja não só o criador, mas principalmente o mais influente teórico da 
lingüística gerativa – e um dos mais importantes estudiosos da linguagem de todos os 
tempos –, no entanto não se deve traçar um sinal de igual entre Chomsky e o 
gerativismo. É muito comum encontrarmos gerativistas que não são chomskyanos, 
apesar de, quase sempre, ser chomskyano significa ser gerativista. Vejamos a seguir as 
principais características dos modelos chomskyanos (e convidamos o leitor, ao avançar 
em seus estudos, a conhecer os modelos diferentes).

KENEDY, E. Gerativismo. In: Mário Eduardo Toscano Martelotta. (Org.). In.: Manual de lingüística. São Paulo: 

Contexto, 2008, v. 1, p. 127-140. 

Gerativismo

GERATIVISMO

  


A lingüística gerativa – ou gerativismo, ou ainda gramática gerativa – é uma corrente de estudos da ciência da linguagem que teve início nos Estados Unidos, no final da década de 50, a partir dos trabalhos do lingüista Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT. Considera-se o ano de 1957 a data do nascimento da lingüística gerativa, ano em que Chomsky publicou seu primeiro livro, Estruturas sintáticas. Trata-se, portanto, de uma linha de pesquisa lingüística que já possui 50 anos de plena atividade e produtividade. Ao longo desse meio século, o gerativismo passou por diversas modificações e reformulações, que refletem a preocupação dos pesquisadores dessa corrente em elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar abstratamente o que é e como funciona a linguagem humana. A lingüística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie de resposta e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, modelo esse que foi dominante na lingüística e nas ciências de uma maneira geral durante toda a primeira metade do século XX. Para os behavioristas, dentre os quais se destacava o lingüista norte-americano Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretada como um condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produzia mediante os estímulos que recebia da interação social. Essa resposta, a partir da repetição constante e mecânica, seria convertida em hábitos, que caracterizariam o comportamento lingüístico de um falante. Com as suas idéias, Chomsky revitalizou a concepção racionalista dos estudos da linguagem, em oposição franca e direta à concepção empiricista de Skinner, Bloomfield e demais estruturalistas norte-americanos e europeus. Para Chomsky, a capacidade humana de falar e entender uma língua (pelo menos), isto é, o comportamento lingüístico dos indivíduos, deve ser compreendido como o resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao organismo humano (e não completamente determinada pelo mundo exterior, como diziam os behavioristas), a qual deve estar fincada na biologia do cérebro/mente da espécie e é destinada a constituir a competência lingüística de um falante. Essa disposição inata para a competência lingüística é o que ficou conhecido como Faculdade da Linguagem. Há, de fato, muitas evidências de que a linguagem seja uma faculdade natural à espécie humana. Pensemos, por exemplo, que, excluindo-se os casos patológicos graves, todos os indivíduos humanos, de todas as raças, em qualquer condição social, em todas as regiões do planeta e em todos os tempos da história foram e são capazes de manifestar, ao cabo de alguns anos de vida e sem receber instrução explícita para tanto, uma competência lingüística – a capacidade natural e inconsciente de produzir e entender frases. É notável que nenhum outro ser do planeta, a não ser o próprio homem, é capaz de dominar naturalmente um sistema de linguagem tão complexo como uma língua natural, mesmo após muitos anos de treinamento. E nem mesmo o mais potente e arrojado dos computadores modernos é capaz de reproduzir artificialmente os aspectos mais elementares do comportamento lingüístico de uma criança de menos de 3 anos de idade, como criar ou compreender uma frase completamente nova.

KENEDY, E. Gerativismo. In: Mário Eduardo Toscano Martelotta. (Org.). In.: Manual de lingüística. São Paulo: 

Contexto, 2008, v. 1, p. 127-140. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

KNOW HOW?

Know-how é um termo em inglês que significa literalmente "saber como". Know-how é o conjunto de conhecimentos práticos (fórmulas secretas, informações, tecnologias, técnicas, procedimentos, etc.) adquiridos por uma empresa ou um profissional, que traz para si vantagens competitivas. Possui know-how a organização que consegue dominar o mercado por apresentar conhecimento especializado sobre algum produto ou serviço que os concorrentes não possuem. O know-how está diretamente relacionado com inovação, habilidade e eficiência na execução de determinado serviço. É um produto valioso resultante da experiência.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Boas Vindas

Em breve, postagens do grupo “Know How” do primeiro semestre de Letras, da Universidade Paulista.