A GRAMÁTICA UNIVERSAL: PRINCÍPIOS E PARÂMETROS
Com a evolução da lingüística gerativa, no início dos anos 80 a idéia da
competência lingüística como um sistema de regras específicas cedeu lugar à hipótese
da Gramática Universal (GU). Deve-se entender por GU o conjunto das propriedades
gramaticais comuns compartilhadas por todas as línguas naturais, bem como as
diferenças entre elas que são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis na
própria GU. A hipótese da GU representa um refinamento da noção de Faculdade da
Linguagem, sustentada pelo gerativismo desde o seu início: a Faculdade da Linguagem
é o dispositivo inato presente em todos os seres humanos, como herança biológica, que
nos fornece um algoritmo, isto é, um sistema gerativo, um conjunto de instruções passo-a-passo,
como as inscritas num programa de computador, o qual nos torna aptos para desenvolver (ou adquirir) a gramática de uma língua. Esse algoritmo é a GU.
Para procurar descrever a natureza e o funcionamento da GU, os gerativistas
formularam uma teoria chamada de Princípios e Parâmetros. Essa teoria possui pelo
menos duas fases: a fase da Teoria da Regência e da Ligação (TRL), que perdurou por
toda a década de 80, e o Programa Minimalista (PM), em desenvolvimento desde o
início da década de 90 até o presente.
As pesquisas da teoria de Princípios e Parâmetros foram e são desenvolvidas
principalmente na área da sintaxe, pois é exatamente nas estruturas sintáticas que mais
evidentemente se percebem as grandes semelhanças entre todas as línguas do mundo,
mesmo entre aquelas que não possuem nenhum parentesco, o que facilita o estudo da GU. Por exemplo, todas as línguas do mundo possuem estruturas como orações
adjetivas, orações interrogativas, e funções sintáticas como sujeito, predicado,
complementos.A possibilidade de estudar a sintaxe isolada dos demais componentes da
gramática (léxico, fonologia, morfologia, semântica) é conseqüência de um conceito
fundamental do gerativismo, o de gramática modular. Segundo ele, os componentes da
gramática devem ser analisados como módulos autônomos, independentes entre si, no
sentido de que são governados por suas próprias regras, que não sofrem influência direta
dos outros módulos. Isto é, o funcionamento de um módulo como, digamos, a sintaxe, é
cego em relação às operações da fonologia, por exemplo. Naturalmente, existem pontos
de interseção entre os módulos da gramática, afinal a sintaxe cria sintagmas e sentenças
a partir das palavras do léxico, e o produto final da sintaxe (a sentença) deve receber
uma leitura fonológica e também uma interpretação semântica básica, que no
gerativismo se chama Forma Lógica. Podemos visualizar essa interação entre os
módulos da gramática no esquema a seguir:
competência lingüística como um sistema de regras específicas cedeu lugar à hipótese
da Gramática Universal (GU). Deve-se entender por GU o conjunto das propriedades
gramaticais comuns compartilhadas por todas as línguas naturais, bem como as
diferenças entre elas que são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis na
própria GU. A hipótese da GU representa um refinamento da noção de Faculdade da
Linguagem, sustentada pelo gerativismo desde o seu início: a Faculdade da Linguagem
é o dispositivo inato presente em todos os seres humanos, como herança biológica, que
nos fornece um algoritmo, isto é, um sistema gerativo, um conjunto de instruções passo-a-passo,
como as inscritas num programa de computador, o qual nos torna aptos para desenvolver (ou adquirir) a gramática de uma língua. Esse algoritmo é a GU.
Para procurar descrever a natureza e o funcionamento da GU, os gerativistas
formularam uma teoria chamada de Princípios e Parâmetros. Essa teoria possui pelo
menos duas fases: a fase da Teoria da Regência e da Ligação (TRL), que perdurou por
toda a década de 80, e o Programa Minimalista (PM), em desenvolvimento desde o
início da década de 90 até o presente.
As pesquisas da teoria de Princípios e Parâmetros foram e são desenvolvidas
principalmente na área da sintaxe, pois é exatamente nas estruturas sintáticas que mais
evidentemente se percebem as grandes semelhanças entre todas as línguas do mundo,
mesmo entre aquelas que não possuem nenhum parentesco, o que facilita o estudo da GU. Por exemplo, todas as línguas do mundo possuem estruturas como orações
adjetivas, orações interrogativas, e funções sintáticas como sujeito, predicado,
complementos.A possibilidade de estudar a sintaxe isolada dos demais componentes da
gramática (léxico, fonologia, morfologia, semântica) é conseqüência de um conceito
fundamental do gerativismo, o de gramática modular. Segundo ele, os componentes da
gramática devem ser analisados como módulos autônomos, independentes entre si, no
sentido de que são governados por suas próprias regras, que não sofrem influência direta
dos outros módulos. Isto é, o funcionamento de um módulo como, digamos, a sintaxe, é
cego em relação às operações da fonologia, por exemplo. Naturalmente, existem pontos
de interseção entre os módulos da gramática, afinal a sintaxe cria sintagmas e sentenças
a partir das palavras do léxico, e o produto final da sintaxe (a sentença) deve receber
uma leitura fonológica e também uma interpretação semântica básica, que no
gerativismo se chama Forma Lógica. Podemos visualizar essa interação entre os
módulos da gramática no esquema a seguir:
Nessa ilustração, vemos que o elemento central da gramática é a sintaxe. Ela
retira do léxico as palavras com as quais construirá, segundo suas próprias regras,
estruturas como sintagmas e sentenças, que da sintaxe são encaminhadas para a
preparação para a pronúncia, no módulo fonológico, e para a interpretação formal, no
módulo semântico. Nessa maneira de compreender o funcionamento da gramática, a
morfologia é interpretada como parte do léxico, já que dá conta da estrutura interna da
palavra, e também como parte da fonologia, uma vez que deve dar conta das alterações
mórficas fonologicamente condicionadas.
No Programa Minimalista atual, entendemos por Princípio as propriedades
gramaticais que são válidas para todas as línguas naturais, ao passo que Parâmetro deve
ser compreendido como as possibilidades (limitadas sempre de maneira binária) de
variação entre as línguas. Por exemplo, quando analisamos as sentenças (a) “João disse
que ele vai se casar” e (b) “Ele disse que João vai se casar”, vimos que em (a) o
pronome “ele” pode referir-se tanto a “João” quanto a qualquer outro homem
anteriormente citado no discurso, enquanto na frase (b) “ele” não pode se referir a
“João”, e necessariamente faz referência a um outro homem.
Essa diferenciação entre a referencialidade do pronome “ele” nas duas frases
pode ser explicada da seguinte maneira: nesse contexto, o pronome faz referência a
algum elemento que precisa ter sido citado anteriormente no texto – trata-se de um
pronome anafórico. É um Princípio da GU que uma anáfora necessariamente deve
suceder o seu referente, e nunca o contrário. É por isso que na frase (a) “ele” pode ser
tanto “João” quanto outro homem citado numa frase anterior, já que ambos os termos
antecedem o pronome. Já no caso de (b) “João” não pode ser o referente de “ele”, pois o
pronome antecede o nome. Se traduzíssemos (a) e (b) para qualquer língua do mundo, o
resultado seria sempre o mesmo: em (b) seria impossível ligar o pronome ao nome
citado, mas em (a) isso pode ocorrer. Trata-se, portanto, de um Princípio da GU,
exatamente igual em todas as línguas naturais.
Vejamos agora um exemplo de Parâmetro. Se considerarmos que o valor
semântico básico da frase (a) seja, digamos, algo como “João disse que ele mesmo, o
próprio João, vai se casar”, saberemos que “ele” se refere a “João”. “João” é o sujeito da
oração principal, e “ele” é o sujeito da oração subordinada. Dizemos, então, que os
sujeitos das duas orações são correferenciais. O que é interessante nesse exemplo é que
o sujeito da segunda oração poderia não ser preenchido por um pronome anafórico, isto
é, o sujeito da oração subordinada poderia ser oculto – que na lingüística gerativa
chamamos tecnicamente de sujeito nulo (representado aqui informalmente por Ø) –,
como ocorre na sentença (c) “João disse que Ø vai se casar”.
(i) João disse que ele vai se casar (“ele” sujeito preenchido)
(ii) João disse que Ø vai se casar (“Ø” sujeito nulo)
A existência de sujeitos nas sentenças é um Princípio da GU, mas a
possibilidade de deixá-los nulos nas frases é um Parâmetro da GU, pois línguas como o
português se caracterizam como [+ sujeito nulo], enquanto línguas como o inglês são [–
sujeito nulo]. É por essa razão que dissemos que os Parâmetros que diferenciam as
línguas são previsíveis e distribuídos sempre de maneira binária (+ ou – o parâmetro
X). O léxico, por exemplo, não é um fator de diferenciação entre as línguas que possa ser interpretado como opção Paramétrica, já que o léxico é sempre arbitrário, e, por isso
mesmo, imprevisível.
O projeto da lingüística gerativa é observar comparativamente as línguas
humanas, com os seus milhares de fenômenos morfofonológicos, sintáticos, semânticos
e sua suntuosa complexidade, com o objetivo de descrever os Princípios e os Parâmetros
da GU que subjazem à competência lingüística dos falantes, para, assim, poder explicar
como é a Faculdade da Linguagem, essa parte notável da capacidade mental humana.
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